Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Sùúrú também nos prepara para os longos caminhos e os períodos de aparente estagnação, aqueles momentos em que parece que nada está acontecendo. Na tradição de Ifá, esses períodos de espera são vistos como oportunidades para reflexão, introspecção e fortalecimento espiritual. Eles nos ensinam que o sucesso não é medido por conquistas imediatas, mas pelo esforço contínuo, pela dedicação incansável e pelo trabalho árduo ao longo do tempo.
Um agricultor iorubá, por exemplo, sabe que a colheita depende de plantar a semente, cuidar da terra e esperar pacientemente que a natureza siga seu curso. Da mesma forma, o adepto de Ifá entende que a prosperidade espiritual e material é o resultado de um cultivo paciente, guiado por Sùúrú. O Odù Osa Meji alerta contra a tentação de buscar atalhos, lembrando que a pressa pode levar à desarmonia com o Orí e à perda das bênçãos prometidas. Em vez disso, Ifá nos convida a abraçar o ritmo natural do cosmos, confiando que cada passo, por menor que pareça, nos aproxima de nosso propósito.
A paciência em Ifá também tem uma dimensão coletiva, pois influencia a forma como interagimos com a comunidade e contribuímos para o bem comum. Em cerimônias comunitárias, como festivais em honra aos Òrìsà ou rituais de reverência aos Egún (antepassados), Sùúrú é essencial para garantir que todos os participantes estejam em harmonia, respeitando o tempo e as contribuições de cada um. Um líder comunitário que pratica Sùúrú inspira confiança e cooperação, criando um ambiente onde o axé, a energia vital, flui livremente. Essa dimensão coletiva reflete a visão iorubá de que a paciência não é apenas uma virtude individual, mas um compromisso com o equilíbrio e a prosperidade de todos.
No contexto espiritual, Sùúrú também está ligada à relação com o Orí e o Egbe, que exigem cuidado e atenção constantes. Um Orí desequilibrado pode ser apaziguado com rituais, mas a verdadeira harmonia só é alcançada quando o adepto cultiva paciência em suas ações e intenções. Da mesma forma, o Egbe, como comunidade celestial, pode demandar oferendas regulares e um período de espera para que suas bênçãos se manifestem. A paciência nesses casos é um ato de fé, uma demonstração de confiança na sabedoria divina e na conexão com o Orun. Além disso, Sùúrú nos ajuda a aceitar que nem todas as respostas ou resultados chegam imediatamente.
Às vezes, o oráculo de Ifá revela que o momento certo para uma mudança ainda não chegou, e cabe ao adepto esperar com serenidade, sabendo que Olódùmarè está guiando o processo. Em última análise, Sùúrú é mais do que uma virtude; é uma necessidade absoluta para quem busca viver plenamente os ensinamentos de Ifá. Ela é o alicerce que sustenta a prática espiritual, o fio que conecta o adepto ao seu Orí, aos Òrìsà e à comunidade. Sem paciência, o conhecimento de Ifá permanece superficial, as lições dos Odù não são absorvidas, e as bênçãos prometidas não se manifestam. Com Sùúrú, no entanto, cada desafio se torna uma oportunidade, cada espera se transforma em um momento de crescimento, e cada passo nos aproxima da sabedoria e da prosperidade que Ifá reserva para os fiéis.
Que Sùúrú seja, portanto, nossa companheira constante, guiando-nos com serenidade e firmeza através das longas jornadas da vida, fortalecendo nosso espírito para enfrentar adversidades com coragem e confiança, e lembrando-nos sempre que a paciência é a chave para a verdadeira realização espiritual e material. Na tradição iorubá, Sùúrú é o ritmo do cosmos, o pulsar da criação, e ao abraçá-la, nos alinhamos com a ordem divina, vivendo em harmonia com o Ayé, o Orun e o propósito sagrado de nossa existência.

