Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Na tradição iorubá, a prática de Ifá revela Sùúrú, ou paciência, como um dos fundamentos mais sagrados e indispensáveis para a jornada espiritual de um adepto, uma virtude que transcende a mera espera e se estabelece como a pedra angular sobre a qual se constrói a verdadeira compreensão da sabedoria ancestral. Para um Babalawo experiente, Sùúrú não é apenas uma qualidade desejável, mas uma força ativa, um alicerce sem o qual o conhecimento profundo de Ifá não pode ser plenamente cultivado, internalizado ou vivido.
A cultura de Ifá, com suas raízes profundas na sabedoria transmitida por Orunmilá exige uma dedicação inabalável, uma entrega total ao processo de aprendizado e crescimento espiritual, e é através da paciência que essa dedicação se torna frutífera, duradoura e transformadora. Na filosofia iorubá, Sùúrú é muito mais do que a capacidade de suportar atrasos ou adversidades; é uma expressão de equilíbrio, serenidade e confiança na ordem divina estabelecida por Olódùmarè, o Criador Supremo, que governa o tempo e o destino de todas as coisas.Além de sua importância no enfrentamento de desafios, Sùúrú é fundamental para o cultivo da tolerância e da compaixão, tanto em relação aos outros quanto a nós mesmos.
Na tradição iorubá, a comunidade é um reflexo do princípio do omolúàbí, que valoriza a responsabilidade coletiva e o bem-estar compartilhado. Ser paciente com os outros – seja perdoando suas falhas, compreendendo suas perspectivas ou esperando que amadureçam em seu próprio tempo – é uma expressão de Iwa Pele que fortalece os laços sociais e promove a harmonia. Da mesma forma, a paciência consigo mesmo é um ato de autocompaixão, que nos permite reconhecer nossas limitações, aprender com nossos erros e crescer espiritualmente.
O processo de autodesenvolvimento em Ifá é longo e exige que o adepto aceite suas imperfeições enquanto trabalha para superá-las, um caminho que só é possível com Sùúrú. Um exemplo prático disso é a iniciação em Ifá, que pode levar anos de preparação, estudo e rituais. Durante esse período, o iniciado deve confiar no processo, mesmo quando o progresso parece lento, sabendo que cada etapa o está aproximando de uma conexão mais profunda com Orunmilá e os Òrìsà. Na prática espiritual, Sùúrú também se manifesta na relação com os rituais e as oferendas. Muitos Ebo exigem períodos de espera, seja para que os materiais sejam reunidos, para que o momento astrológico correto chegue, ou para que as forças espirituais manifestem os resultados desejados.
Por exemplo, um Ebo realizado ao amanhecer pode exigir que o adepto aguarde dias ou semanas para observar seus efeitos, enquanto um ritual de apaziguamento do Egbe (comunidade celestial) pode demandar repetições periódicas. A paciência nesses momentos é um teste de fé, uma demonstração de confiança na sabedoria de Ifá e na intermediação de Èsù, o mensageiro divino que leva as oferendas ao Orun. Além disso, a prática de meditação, cânticos sagrados (oríkì) e banhos espirituais (omiero) requer um ritmo tranquilo e deliberado, permitindo que o adepto se conecte profundamente com as energias espirituais. Essa abordagem reflete a visão iorubá de que o tempo é um aliado sagrado, um presente de Olódùmarè que nos guia rumo à realização de nosso destino.

