Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Para o povo Yorubá, as figuras do sacerdote e do feiticeiro ocupam lugares distintos, cada uma com sua própria essência e propósito. Embora ambos lidem com o mundo espiritual, suas intenções, métodos e conexões com o divino os separam de maneira clara. O sacerdote é alguém escolhido, um emissário de Eledumare. Ele não age por vontade própria, mas segue uma missão maior, guiada por princípios de harmonia, equilíbrio e respeito pela criação. Deus, na cosmovisão Yorubá, é a fonte de tudo o que existe, a energia primordial que rege o universo.
O sacerdote, ao se conectar com essa força, assume a responsabilidade de ser um canal de bênçãos, cura e orientação. Sua prática é fundamentada em rituais e ensinamentos que promovem a paz e fortalecem a comunidade. Ele não busca poder pessoal ou domínio sobre os outros, mas age como um mediador entre o humano e o divino, sempre em alinhamento com os valores do Criador.
Por outro lado, o feiticeiro trilha um caminho diferente. Ele não está ligado a Eledumare ou aos preceitos que regem o sacerdócio. Sua prática é mais individual, voltada para interesses pessoais, como a busca por dinheiro, bens e fama ou para manipular forças espirituais em benefício próprio ou de outros, sem a preocupação com o equilíbrio maior. Afinal, ele está sendo pago. O feiticeiro pode usar seu conhecimento para alcançar objetivos variados, sem a aprovação da sua ancestralidade ou do mundo dos espíritos.
Essa ausência de conexão com os princípios do Todo Poderoso é o que o diferencia do sacerdote. Enquanto o sacerdote é um servidor do Criador, o feiticeiro opera por sua própria conta, sem a mesma responsabilidade espiritual. O sacerdote não usa feitiçaria para atacar ou prejudicar ninguém. Seu papel é promover a vida, a cura e a reconciliação. A feitiçaria, quando usada para causar dano, vai contra os valores do sacerdócio. O feiticeiro, por outro lado, não tem esse compromisso. Ele pode recorrer a práticas que manipulam energias espirituais de forma a causar impacto, seja positivo ou negativo, dependendo de suas intenções.
Essa distinção entre ambos não é apenas uma questão de prática, mas de visão de mundo. O sacerdote enxerga sua existência como parte de um todo maior, onde cada ação tem consequências espirituais e materiais. Ele age com a consciência de que está servindo a Eledumare e, por extensão, à humanidade. Não adianta um feiticeiro tentar se esconder dentro do culto de Ifá, pois não terá conexão com Ela. Não são somente as escolhas, mas o caráter. Ele está sozinho. Um feiticeiro jamais será um sacerdote, mesmo que tente.

