Por Bàbá Ifasogbon Agboola
O culto a Obatalá se espalha por toda a terra yorubá, de norte a sul. Mulheres que não conseguem engravidar vão até ele pedir ajuda para o ventre abrir. Grávidas tomam água do santuário dele para que o bebê venha com traços harmoniosos. Pessoas com o corpo debilitado bebem a mesma água, colhida logo ao amanhecer, antes do sol forte. Quem vai buscar essa água fica em silêncio completo, sem abrir a boca para ninguém. A água precisa ser renovada todo dia, para não perder a força da pureza. No passado, só mulheres que nunca tinham conhecido homem ou que viviam sem relações, com nome limpo na comunidade, podiam ir à fonte. Elas tocavam um sino pequeno o caminho inteiro, avisando que era tarefa sagrada, e ninguém ousava falar.
Obatalá ensina que a vida começa com equilíbrio. Ele molda o corpo humano com argila, mas não faz sozinho. Recebe o sopro do Supremo e junta com elementos da natureza. A cabeça, chamada de ori, é o que ele mais cuida, porque ali fica o destino de cada um. Antes de nascer, a pessoa escolhe o caminho, e Obatalá garante que o corpo aguente a escolha. Por isso, ele é pai de todos, mas cobra responsabilidade. Se alguém nasce com pernas tortas ou braços curtos, não é erro, é teste. A família aprende a cuidar, a valorizar o que tem. Em festas, dançam com roupas brancas, oferecem inhame pilado, frutas claras, tudo sem cor escura. O branco domina, simbolizando a folha nova, o começo sem mácula.
Ele vive em lugares altos, montanhas ou colinas, onde o ar é mais puro. Em Ifè, o templo dele fica no centro, ponto de encontro para quem busca orientação. Reis antigos consultavam Obatalá antes de decidir guerras ou alianças. Ele dizia: lute só se não houver outro jeito, e mesmo assim com o coração limpo. A paz é o maior troféu. Por isso, cidades que o honram evitam conflitos longos. Comerciantes levam ofertas para que as vendas fluam sem engano. Artesãos pedem mãos firmes para criar potes perfeitos, tecidos sem falha.
Uma história simples conta como Obatalá desceu do céu com uma corrente de ouro, um punhado de terra e uma galinha. O Supremo mandou: crie o seco onde só havia água. Ele jogou a terra, a galinha espalhou com as patas, e pronto, surgiu o continente. Mas ele não parou aí. Pegou argila úmida e começou a esculpir corpos. Um dia, cansado, bebeu vinho de palma demais e moldou formas tortas. Acordou arrependido, jurou nunca mais beber e passou a proteger quem nasce diferente. Desde então, esses filhos são sagrados, ninguém pode maltratá-los. A história ensina que erro acontece, mas correção vem com cuidado maior.

