Por Bàbá Ifasogbon Agboola
O jogo de búzios, chamado ẹẹ́rìndínlógún, varia um pouco de terra em terra na Nigéria, mas a base vem dos versos de Ifá. No Odù Ogbè Sà, fica claro que Ọ̀rúnmìlà deu esse oráculo a Òṣùn, como presente para ela guiar as pessoas. Isso não fecha a porta para outros orixás. Qualquer iniciado pode aprender os versos, jogar os búzios, interpretar os sinais. Òṣùn só pede respeito, mãos limpas, intenção pura.
O bronze, metal que não enferruja fácil, simboliza a beleza que dura. Fertilidade é o ventre que enche, mas também a terra que dá fruto, o negócio que cresce. Prosperidade é casa cheia de comida, filhos saudáveis, amigos leais. Òṣùn ensina que riqueza sem amor é vazia, como rio seco.
Em Òṣogbo, o rio Òṣùn corta a cidade, árvores na margem, peixes nadando contra a corrente. O festival dura semanas. Começa com limpeza: varrem ruas, lavam altares, pintam de amarelo e branco. Mulheres vestem panos dourados, colares de contas que tilintam. A rainha do rio, chamada Iyalode, lidera a procissão. Ela carrega uma tigela de bronze com água do santuário, caminha devagar até o trono sagrado. Lá, dança, corpo balançando como onda, voz cantando louvores antigos. O povo responde yèyé ò, vozes se misturando ao som da água.
Crianças correm pela margem, jogam flores no rio, pedem saúde. Estéreis mergulham os pés, sentem a frieza subir pelas pernas, acreditam que abre o caminho interno. No ano seguinte, voltam com barrigas arredondadas ou bebês amarrados nas costas. Uma mulher chamada Funmi esperou sete anos. Casada jovem, via ciclos passarem sem sinal. Foi ao festival, tomou água, dançou até cair. Sonhou com Òṣùn penteando cabelos longos, dizendo: volte com prova. Nove meses depois, nasceu gêmeos, menino e menina. Batizou de Taiwo e Kehinde, nomes que honram a ordem de nascimento. Hoje, Funmi ajuda no santuário, conta a história para quem duvida.

