Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Òṣùn está ligada as àguas doces, a capacidade de gerar vida e da riqueza que faz o dia a dia valer a pena. Mulheres a chamam de mãe graciosa, repetindo yèyé ò, yèyé ò, yèyé ò, como quem balança uma criança no colo para acalmar. Em histórias antigas, ela surge como Òṣùn Òṣogbo, ligada à cidade de Òṣogbo, onde o rio leva o nome dela e as pessoas vão todo ano celebrar. Outras narrativas a colocam perto de Logunedé, que às vezes é filho, às vezes mensageiro, tão grudados que um completa o outro, como rio e margem.Ela é esposa de Orunmila, guardião dos segredos e sabedoria.
Ela é Ìyámi Àkókó, a mãe das mães, ancestral que veio antes de muitas. Em Òṣogbo, o culto pulsa forte, com festival que para a cidade inteira. Em Abéòkúta, ela protege as pedras e as pessoas que vivem ali. Devotos escolhem um riacho ou pedaço de rio, batizam de odò Òṣùn, constroem altar na beira, com pedras (seixos) e espelhos que refletem o céu. Ela cuida das crianças desde o ventre, dá fertilidade a homens e mulheres, abre caminhos para o sêmen encontrar o óvulo, para o embrião crescer forte. Mas vai além: traz prosperidade, dinheiro que entra sem luta suja, colheita farta, comércio que gira. Protege de acidentes, doenças, inveja alheia. Chame por ela em qualquer aperto, ela ouve e age, porque o poder dela não tem limite quando o coração é sincero. Orisa do empoderamento.
Foi a primeira iyami a virar Olùtójú àwon omo, a que fica de olho em toda criança, e Aláwóyè omo, a que cura os pequenos quando adoecem. No festival anual, mulheres sem filhos vão ao santuário, tomam água do rio, prometem voltar com o bebê nos braços para agradecer. Muitas cumprem, chegam dançando, criança no colo, olhos brilhando de gratidão. A água é colhida com cuidado, em cabaças limpas, oferecida com mel, porque Òṣùn gosta de doce, de coisas que adoçam a vida.

