Por Bàbá Ifasogbon Agboola

A oração (Iwure) é um ato de devoção que não deve ser dispensado pelo filho de Ifá. Orunmila nos ensina que tudo o que precisamos vem por meio de Olodumare, seja pedindo aos imole ou orisa. Dessa forma, devemos manter nossa conexão perante o criador, todos os dias, de preferência, para que assim possamos, em pensamento elevado, estarmos longe das picuinhas naturais da terra.

Essa prática diária de oração não é apenas um ritual, mas uma ponte que nos liga ao divino, um canal por onde fluem as bênçãos e a orientação de Olodumare. Quando oramos, não estamos apenas pedindo algo; estamos reconhecendo a presença do criador em nossas vidas, agradecendo pelo que já temos e nos alinhando com o propósito maior que guia nossa existência. Orunmila, em sua sabedoria, nos mostra que a oração é um diálogo constante, uma conversa íntima com o sagrado, que nos ajuda a manter o equilíbrio entre o mundo físico e o espiritual.

Para o filho de Ifá, a oração é também um exercício de humildade. Ao nos colocarmos diante de Olodumare, reconhecemos que não somos autossuficientes, que dependemos da força divina para enfrentar os desafios da vida. Essa dependência não é fraqueza, mas uma demonstração de sabedoria. É entender que, por mais que tenhamos conhecimento ou habilidades, é a energia de Olodumare, manifestada através dos orisa, que nos sustenta. Cada oração é um lembrete de que somos parte de algo maior, de um universo regido por leis espirituais que transcendem nossa compreensão imediata.

A conexão diária com o Criador, como nos ensina Ifá, também nos protege das armadilhas do ego. As “picuinhas naturais da terra” — as pequenas disputas, os ciúmes, as frustrações do dia a dia — são como areia movediça que pode nos puxar para baixo se não estivermos atentos. Quando oramos, elevamos nossa mente e nosso coração, colocando-nos em um estado de clareza e paz. Essa elevação nos permite enxergar além das trivialidades, focar no que realmente importa e agir com discernimento, mesmo diante de provocações ou dificuldades.

Não basta recitar palavras bonitas ou seguir um ritual à risca; o coração deve estar presente. A intenção sincera é o que dá poder à oração. Quando oramos com verdade, nossas palavras vibram com a energia do nosso espírito, e essa vibração é captada pelo universo. É como se estivéssemos enviando uma mensagem clara a Olodumare, uma mensagem que não se perde no ruído das distrações mundanas. Por isso, antes de orar, é essencial aquietar a mente, respirar fundo e focar no que realmente queremos expressar.