Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Falar sobre Ifá é mergulhar em algo que vai muito além de uma religião no sentido estreito que costumamos dar a essa palavra. Ifá é uma maneira de estar no mundo, uma lente que nos permite enxergar a vida com mais clareza, profundidade e propósito. Não é apenas um conjunto de histórias, versos ou rituais para serem admirados como quem folheia um livro antigo e fascinante, para depois guardá-lo na prateleira e seguir vivendo como se nada tivesse mudado. Ifá nos convida a incorporar sua sabedoria no dia a dia, a transformar a forma como pensamos, sentimos e agimos. É um chamado para alinhar nossa existência com algo maior, com o fluxo natural do universo e com o destino que nos foi traçado.
A filosofia de Ifá, transmitida através das palavras e ensinamentos de Orunmilá, não é algo que se limita a momentos específicos de culto ou prática cerimonial. Ela é um guia para a vida inteira, para cada escolha, cada interação, cada respiração. Orunmilá, o Orisa da profecia de Ifá, nos ensina que a verdadeira mudança começa dentro de nós. Não adianta recitar versos bonitos ou conhecer de cor os odus, se essas palavras não se transformarem em ações concretas. A sabedoria de Ifá não é para ser apenas contemplada; ela é para ser vivida. E isso exige coragem, porque mudar a si mesmo é uma das coisas mais difíceis que podemos fazer.
O primeiro passo para viver segundo Ifá é olhar para dentro. Antes de querer transformar o mundo ao nosso redor, precisamos entender quem somos, o que carregamos no peito, quais são os nossos conflitos, medos e desejos. Ifá nos ensina que o alinhamento com o nosso destino começa com esse processo interno. É como arrumar uma casa antes de receber visitas: se o interior está em desordem, não há como oferecer harmonia aos outros. Esse trabalho de autoconhecimento não é simples. Ele exige que a gente enfrente verdades incômodas, que questione hábitos antigos e que esteja disposto a crescer, mesmo que doa. Mas é exatamente nesse processo que encontramos a base para uma vida mais plena.
Quando falamos de Ifá, falamos de equilíbrio. Equilíbrio entre o espiritual e o material, entre o individual e o coletivo, entre o que somos e o que podemos nos tornar. Ifá não nos pede para abandonar o mundo físico ou ignorar as demandas do dia a dia. Cada momento, por mais comum que pareça, é uma oportunidade de conexão com Olodumare, a força suprema que permeia tudo o que existe. Viver segundo Ifá é aprender a enxergar essa conexão em tudo, a reconhecer que nada é por acaso.
