Por Bàbá Ifasogbon Agboola
A prática de honrar o Egbe também está profundamente enraizada no princípio do Iwa Pele, o bom caráter, que é central à filosofia de Ifá. Um indivíduo que cultiva virtudes como respeito, humildade e generosidade fortalece sua conexão com o Duplo Celestial e o Egbe, pois o bom caráter é visto como uma ponte entre o Ayé e o Orun. Por outro lado, comportamentos como arrogância, egoísmo ou desrespeito podem enfraquecer esse vínculo, atraindo desequilíbrios espirituais. Nos Odù Ifá, como o Ogunda Meji, há histórias que ilustram a importância de manter uma relação harmoniosa com o Egbe, enfatizando que negligenciar o Duplo Celestial pode levar a dificuldades na vida terrena. Essas narrativas reforçam a ideia de que o Egbe não é apenas uma força externa, mas uma extensão da própria essência espiritual do indivíduo, que requer cuidado e reverência constantes.
A conexão com o Egbe também transcende a vida terrena, influenciando o destino espiritual após a morte. Na visão iorubá, quando uma pessoa morre, sua alma retorna ao Orun, onde se reúne com seu Duplo Celestial e o Egbe, completando o ciclo de sua jornada espiritual. A qualidade dessa reunificação depende de como o indivíduo viveu no Ayé: aqueles que honraram seu Egbe e cultivaram Iwa Pele são recebidos com harmonia no reino celestial, enquanto aqueles que negligenciaram essa conexão podem enfrentar desafios espirituais.
Essa perspectiva sublinha a crença de que a vida terrena é uma preparação para a existência no Orun, e que a relação com o Egbe é uma parte essencial desse processo. Assim, o Egbe não é apenas um conceito teológico, mas uma força viva que permeia todos os aspectos da existência, desde a criação da alma até sua transição final para o reino espiritual.O conceito de Egbe e do Duplo Celestial na tradição iorubá é, portanto, uma celebração da dualidade sagrada que define a humanidade: somos seres terrenos, mas também celestiais; somos indivíduos, mas também parte de uma comunidade espiritual maior. Honrar o Egbe é reconhecer essa conexão, cultivando uma relação de respeito e equilíbrio com nosso Duplo Celestial e com os pares espirituais que nos acompanham.
Por meio de rituais, oferendas e uma vida guiada por Iwa Pele, o indivíduo pode fortalecer esse vínculo, garantindo proteção, orientação e harmonia em sua jornada terrena. O Egbe nos lembra que nunca estamos sozinhos, que nossa existência é entrelaçada com o divino e que, ao honrar nossa conexão com o Orun, podemos viver com propósito, plenitude e alinhamento com o cosmos. Assim, o Egbe é mais do que um grupo celestial; é um espelho da nossa essência espiritual, um lembrete constante de que somos, em nossa essência, seres sagrados conectados ao eterno.

