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Egbe Orun II

Por Bàbá Ifasogbon Agboola

O processo pelo qual o Duplo Celestial é ativado permanece envolto em mistério, pois os Odù Ifá, os versos sagrados que codificam a sabedoria ancestral, não oferecem uma explicação definitiva sobre sua formação. No entanto, diversas teorias dentro da tradição iorubá buscam esclarecer esse fenômeno, cada uma contribuindo para uma compreensão mais ampla da relação entre o indivíduo terreno e seu correspondente espiritual. Uma das teorias mais difundidas sugere que, no momento em que Olódùmarè insufla vida no Orí criado por Obàtálá, o sopro divino gera simultaneamente duas almas a partir de uma única essência espiritual.

Essas almas, unidas em um mesmo Orí, coexistem no Orun, compartilhando uma conexão profunda e inseparável. Durante esse período celestial, elas exploram juntas os reinos espirituais, visitando mercados sagrados como Ido e Ejigbomekun, onde escolhem seu Orí (destino espiritual) e Iwa (caráter). Nesse processo, as almas desenvolvem um conhecimento mútuo que transcende o tempo e o espaço, estabelecendo um vínculo de irmandade espiritual. Quando chega o momento de sua linhagem terrena ser determinada, as almas se separam: uma desce ao Ayé para encarnar como um ser humano, enquanto a outra permanece no Orun, assumindo o papel de Duplo Celestial e integrando-se ao Egbe, o grupo de pares espirituais que continua a influenciar e proteger o indivíduo terreno.

Uma segunda teoria oferece uma perspectiva ligeiramente diferente, propondo que a formação do Duplo Celestial ocorre apenas após a identificação dos pais terrenos. Nesse cenário, a alma criada por Olódùmarè inicialmente existe como uma entidade única no Orun. Somente quando o destino terreno da alma é definido – incluindo sua família e contexto de nascimento – é que ela se divide em duas partes. Uma dessas partes encarna na Terra, enquanto a outra permanece no céu como o Duplo Celestial, mantendo uma conexão espiritual com o Egbe. Essa teoria enfatiza a ideia de que o Duplo Celestial é uma resposta direta às circunstâncias terrenas da alma, funcionando como um guardião espiritual que reflete e complementa a existência do indivíduo no Ayé.

Independentemente da teoria adotada, o que permanece claro é que todo ser humano possui um correspondente espiritual no Orun, uma réplica exata de seu caráter, personalidade e essência, que mantém uma ligação sagrada com o indivíduo terreno. Esse Duplo Celestial não é apenas um reflexo, mas um parceiro espiritual que participa de um vínculo matrimonial celestial, considerado mais elevado e puro do que qualquer relação terrena, simbolizando a unidade entre o físico e o espiritual.

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Bàbá Ifasogbon Agboola

Sacerdote de Ifá Tradicional Yorubá

Entre em contato: Whats (51) 999-748701

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