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Conceito de Ori IV

Por Bàbá Ifasogbon Agboola

O cuidado com o Ori vai além das práticas rituais; ele exige um compromisso ético e comportamental. Na filosofia iorubá, o bom caráter é a base de uma vida bem-sucedida, e o Ori responde positivamente a ações que refletem honestidade, humildade, generosidade e respeito. Por outro lado, comportamentos como arrogância, desrespeito ou desonestidade podem desagradar o Ori, criando bloqueios espirituais que dificultam a realização do destino. Esse princípio é frequentemente ilustrado nos Odù Ifá, os versos sagrados que contêm a sabedoria ancestral da tradição. Por exemplo, o Odù Ogbe Alara ensina que a paciência e o respeito pelo Ori são essenciais para superar desafios, enquanto o Odù Osa Meji alerta contra a negligência espiritual que pode levar à desarmonia. Essas histórias reforçam a ideia de que o Ori não é uma força externa, mas uma extensão do próprio ser, que requer cuidado constante e alinhamento com os valores de Ifá.

A relação com o Ori não se limita à vida terrena; ela permeia o ciclo completo de existência, desde a criação até a morte e além. Na visão iorubá, o Ori acompanha a alma em sua jornada pelo Ayé, guiando-a através das experiências necessárias para cumprir seu destino. Quando a morte chega, o Ori se desliga do corpo físico, mas sua essência permanece ligada à alma, que retorna ao Orun para prestar contas de sua jornada. A morte, portanto, não é o fim do Ori, mas o encerramento de um ciclo, um momento em que a missão conjunta do indivíduo e de seu Ori na Terra é concluída. Em algumas tradições, acredita-se que o Ori de uma pessoa pode influenciar as gerações futuras, especialmente se o indivíduo viveu com bom caráter e deixou um legado positivo. Essa visão cíclica da existência reforça a importância de honrar o Ori em todos os momentos, pois suas ações na vida ecoam no reino espiritual e nas vidas daqueles que virão depois.

O conceito de Ori é, em essência, uma filosofia de vida que enfatiza o poder do autoconhecimento, da responsabilidade pessoal e da harmonia espiritual. Ele ensina que cada pessoa carrega dentro de si uma centelha divina, uma força única que define seu propósito e potencial. Honrar o Ori não é apenas uma prática religiosa, mas um ato de autoafirmação, uma declaração de que reconhecemos nosso valor intrínseco e nossa conexão com o cosmos. Na tradição iorubá, o Ori é celebrado como o maior presente de Olódùmarè, uma fonte de força que capacita o indivíduo a enfrentar desafios, superar adversidades e alcançar a plenitude. Quando uma pessoa vive em harmonia com seu Ori, ela experimenta alafia – a paz interior que vem de estar alinhado com seu destino. Essa paz não é apenas a ausência de conflito, mas a presença de equilíbrio, propósito e conexão com o divino.

Compreender e respeitar o Ori é, portanto, um caminho para a realização espiritual e material. É um convite para olhar para dentro, reconhecer o poder que reside em nossa própria essência e assumir a responsabilidade por nossas escolhas. Na tradição de Ifá, o Ori é o companheiro mais fiel de cada pessoa, um guia que nunca falha, desde que seja tratado com o devido cuidado e reverência. Por meio de rituais, práticas éticas e uma vida de bom caráter, o indivíduo pode fortalecer sua conexão com o Ori, garantindo que ele o conduza a um caminho de prosperidade, saúde e realização. Assim, o Ori não é apenas um conceito teológico, mas uma força viva que pulsa em cada um de nós, um lembrete constante de que nosso destino está em nossas mãos – ou, mais precisamente, em nossa cabeça.

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Bàbá Ifasogbon Agboola

Sacerdote de Ifá Tradicional Yorubá

Entre em contato: Whats (51) 999-748701

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