Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Cuidar do Ori envolve uma série de práticas espirituais e éticas que refletem a visão iorubá de que a cabeça, tanto física quanto espiritual, é o assento da consciência e da conexão com o divino. A cabeça física é considerada um portal para o Ori, e, por isso, deve ser mantida limpa, protegida e tratada com respeito. Na prática, isso significa ser seletivo em relação a quem toca a cabeça, pois o contato físico pode transmitir energias que afetam o equilíbrio espiritual. Rituais como o Ibori, uma oferenda específica para fortalecer e apaziguar o Ori, são amplamente realizados para manter sua harmonia.
Esses rituais podem incluir elementos como água, azeite de dendê, obi (nozes de cola), orogbo (fruto amargo), ou outros materiais prescritos pelo oráculo de Ifá, dependendo das necessidades do indivíduo. Além disso, cânticos sagrados (oríkì) e invocações são usados para louvar o Ori, reforçando sua conexão com o divino e despertando seu potencial para guiar a pessoa ao sucesso. Outra prática comum é o uso de banhos espirituais (omiero) com ervas sagradas, que limpam energeticamente a cabeça e alinham o Ori com as forças espirituais positivas.
Na tradição de Ifá, o Ori é frequentemente descrito como o “primeiro Òrìsà” de cada indivíduo, um guia pessoal que transcende até mesmo as divindades coletivas, como Ògún, Òsun ou Sàngó. Enquanto os Òrìsà governam aspectos específicos da natureza e da vida, o Ori é único para cada pessoa, sendo a fonte primária de força, proteção e direção. Um provérbio iorubá diz: “Ori la ba bọ, ka fi Òrìsà sílẹ”, que significa “É o Ori que devemos venerar, antes de qualquer Òrìsà”. Isso reflete a crença de que, sem um Ori harmonizado, nenhuma oferenda ou ritual a outras divindades será plenamente eficaz.
O Ori é a chave para desbloquear o potencial de uma pessoa, e sua satisfação é essencial para que as bênçãos dos Òrìsà se manifestem. Quando algo na vida de uma pessoa parece estar em desordem – seja um problema de saúde, dificuldades financeiras, conflitos familiares ou falta de clareza – uma consulta ao Ifá, conduzida por um Babalawo ou Iyanifa, pode revelar que o Ori está em desarmonia. Nesses casos, o oráculo prescreverá rituais específicos, como um Ebo ou um Ibori, para apaziguar o Ori e restaurar o equilíbrio. Esses rituais não são apenas atos de reparação, mas também momentos de reconexão com o propósito espiritual do indivíduo, uma oportunidade de realinhar a vida com o destino escolhido.

