Por Bàbá Ifasogbon Agboola
Na tradição iorubá, o conceito de Ori é o cerne da compreensão do destino, da identidade e do propósito de cada indivíduo no cosmos. Muito mais do que uma ideia abstrata, Ori é a essência espiritual que define quem somos, o que viemos realizar e como navegamos pelas complexidades da existência. Na filosofia de Ifá, Ori não é apenas um guia passivo, mas uma força dinâmica e sagrada que acompanha cada pessoa desde o momento de sua criação espiritual até o fim de sua jornada terrena, influenciando decisões, moldando caminhos e conectando o indivíduo ao divino. Ele é, ao mesmo tempo, a âncora do destino e a fonte de poder pessoal, um reflexo da sabedoria iorubá que coloca o autoconhecimento e a responsabilidade individual no centro da vida espiritual.
Na cosmologia iorubá, acredita-se que antes de nascer, cada alma se apresenta diante de Olódùmarè, o Criador Supremo, em um processo sagrado de escolha do destino, conhecido como ìpín orí. Nesse momento, o Ori, que pode ser entendido como a “cabeça espiritual” ou o “eu superior”, desempenha um papel central, selecionando o caminho que a alma seguirá no mundo físico, o Ayé. Essa escolha não é arbitrária, mas um acordo sagrado que reflete os propósitos espirituais da alma, incluindo os desafios, bênçãos e lições que ela enfrentará. O Ori, portanto, é o guardião desse contrato divino, a força que assegura que a trajetória da vida esteja alinhada com o plano estabelecido no Orun, o reino espiritual.
O que torna o conceito de Ori tão profundo é sua dualidade: ele é ao mesmo tempo fixo e maleável. O destino escolhido no momento da criação é imutável, uma estrutura que define os contornos gerais da vida de uma pessoa. No entanto, a filosofia de Ifá ensina que o comportamento, as escolhas e as ações do indivíduo – moldados pelo princípio do ìwà-pèlé (bom caráter) – têm o poder de influenciar a forma como esse destino se manifesta. Essa distinção entre destino e comportamento é um dos ensinamentos mais poderosos da tradição iorubá. Embora não possamos mudar o que foi acordado com Olódùmarè, podemos facilitar ou dificultar a realização de nosso destino por meio de nossas atitudes, intenções e práticas espirituais.
Um Ori bem cuidado, harmonizado e respeitado conduz o indivíduo ao sucesso, à prosperidade e à paz interior, enquanto um Ori negligenciado ou em desequilíbrio pode levar a bloqueios, sofrimentos e desvios do caminho predestinado. Por isso, cuidar do Ori é uma prática essencial na tradição iorubá, uma responsabilidade que exige vigilância, reverência e compromisso contínuo.

