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A kunlé a yan eda, a daye tan ojú níkan ni

Por Bàbá Ifasogbon Agboola

A kunlé a yan eda, a daye tan ojú níkan ni

(Escolhemos nossos destinos no céu, mas na Terra nos tornamos impacientes)

Na sabedoria yorubá, entendemos que ninguém nasce por acaso. Cada ser humano, antes de descer à Terra, passa por um momento sagrado: ajoelha-se diante do Orun, o mundo espiritual, e escolhe o próprio destino. É nesse momento que nos conectamos com nosso Ori — a essência divina que habita em cada um — e fazemos escolhas profundas: quais dons carregaremos, quais aprendizados enfrentaremos, que caminhos cruzaremos, e até mesmo quais dores e curas viveremos.

Escolhemos com consciência. Não fomos forçados. Não fomos punidos. Cada um de nós aceitou uma jornada, sabendo que, por mais difícil que fosse, ela seria necessária para o nosso crescimento espiritual. Escolhemos com a clareza do Espírito, com a sabedoria que só o Orun pode oferecer. E então… viemos ao mundo. Mas quando os olhos se abrem aqui no Aiyé, tudo muda.

A memória do Espírito se apaga, e nos vemos em meio a uma realidade densa, rápida, cheia de dores e cobranças. O tempo começa a correr diferente. As emoções pesam. As expectativas crescem. E aquilo que foi escolhido com tanto amor e coragem, passa a ser vivido com dúvida, medo, resistência. Nos tornamos impacientes. Queremos respostas imediatas, caminhos fáceis, soluções rápidas. Passamos a medir o valor da vida pelo que temos, pelo que conquistamos, pela comparação com os outros. Esquecemos que o verdadeiro valor está na experiência — mesmo quando ela é dura.

Esquecemos que o que hoje nos machuca pode ser exatamente o que nos levará a um novo nível de consciência. A frase yorubá que dá nome a esse texto nos alerta com firmeza e carinho: o problema não é o destino escolhido, é a forma como o vivemos. No céu, escolhemos com fé. Na Terra, vivemos com pressa. No céu, sabíamos que haveria tempo para tudo. Aqui, achamos que estamos atrasados o tempo todo. No céu, confiamos no caminho. Aqui, queremos saber o final da estrada antes mesmo de dar o primeiro passo.

Mas o destino não é algo que simplesmente acontece. Ele se revela com o tempo. Ele se constrói com cada decisão, com cada superação, com cada momento em que você escolhe continuar mesmo sem entender o porquê. Por isso, a sabedoria está em lembrar. Lembrar que há um propósito. Lembrar que o que hoje parece confuso, amanhã pode fazer sentido. Lembrar que você não veio para sofrer, mas para aprender — e que até a dor tem um ensinamento sagrado. Ifá nos ensina que não existe destino sem desafio. Não existe aprendizado sem movimento. E não existe vitória sem entrega. Quando a impaciência bater, quando a dúvida vier, quando o cansaço apertar, olhe para dentro. Sente-se em silêncio.

Converse com seu Ori. Peça clareza. Peça força. Peça paciência. A resposta talvez não venha em palavras, mas virá em paz. O Orun e o Aiyé não estão desconectados. O que você vive aqui é reflexo do que foi escolhido lá. E mesmo quando tudo parece escuro, há luz dentro de você. A luz da sua essência. A luz do seu caminho. A luz da sua ancestralidade. Confie. Não acelere o tempo. Viva cada etapa. Honre o que você escolheu antes de nascer. Pois quando você caminha com paciência, fé e consciência, tudo se alinha. Tudo floresce. Tudo se revela. E aí, você entende: não estava perdido, apenas impaciente. 

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Bàbá Ifasogbon Agboola

Sacerdote de Ifá Tradicional Yorubá

Entre em contato: Whats (51) 999-748701

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