Por Bàbá Ifasogbon Agboola

Na nossa Egbe Ifá, aprendemos desde cedo que ajudar quem pede socorro é mais do que um gesto bonito: é um dever. Quando alguém estende a mão, seja por uma moeda, um prato de comida ou um conselho, nossa responsabilidade como filhos de Ifá é responder com apoio. Não se trata de escolher quando ou como ajudar, mas de entender que a solidariedade é parte de quem somos. Negar auxílio a quem precisa é como virar as costas para o próprio caminho que trilhamos ao lado de Orunmila, Olodumare e os Orisa.

Pense nisso: cada pessoa que cruza seu caminho carregando uma dificuldade pode ser um reflexo do Criador. Aquele homem pedindo na esquina, a senhora que mal consegue carregar suas sacolas, a criança que te olha com fome — todos eles são oportunidades de conexão com a força criadora. Ajudar não é apenas dar algo material; é oferecer dignidade, esperança e presença. Quando você estende a mão, está construindo um laço com o divino, porque Olodumare está presente em cada um desses momentos.

O Odu Ogbe Irete nos ensina isso com clareza:

Eni fi akéboje ko fi oore se é 

Eni soore egbèrún 

Yóò fi gba egbèwá 

Oòduà Olúwa mi atérìgbeji ni yóò san án. 

Quem vê alguém em necessidade e oferece ajuda 

Quem faz mil gestos de bondade 

Receberá o dobro em retorno 

Oòduà, nosso Senhor no céu, recompensa quem age assim.

Ajudar o próximo não é uma troca onde você espera algo em retorno, mas um ato que transforma o mundo ao seu redor. Cada moeda que você dá, cada peso que você ajuda a carregar, cada sorriso que você oferece é como uma semente plantada. Com o tempo, essas sementes crescem, e o mundo fica um pouco mais leve, um pouco mais humano.

Ser gentil não é uma tarefa complicada. Não exige grandes sacrifícios ou recursos infinitos. Às vezes, é só parar por um segundo, ouvir quem está pedindo, enxergar a pessoa por trás da dificuldade. Um copo d’água, uma palavra de conforto, um minuto do seu tempo — essas coisas podem mudar o dia de alguém. E, ao mudar o dia de alguém, você também muda algo dentro de si. A gentileza tem esse poder: ela circula, se multiplica, cria laços que nem sempre vemos, mas que sempre sentimos.

Na prática, ser solidário significa estar atento. Quando você passa por alguém que precisa de ajuda, não é hora de julgar por que essa pessoa está ali ou o que ela fez para chegar àquela situação. Julgar não resolve nada; só cria distância. Em vez disso, pergunte-se: o que eu posso fazer agora? Talvez você não tenha muito para dar, mas o pouco que você oferece pode ser tudo para quem recebe.

Essa ideia de dividir com o próximo está no coração de Ifá. Quando você ajuda, você não está apenas dando algo; está fazendo uma oferenda. E sabe o que é mais incrível? Você pode ser a resposta para a oração de outra pessoa. Alguém que pediu força, coragem ou um sinal pode encontrar isso através de você. Ser esse elo entre o pedido e a realização é um privilégio, jamais um fardo.